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terça-feira, 5 de maio de 2009

Mensagem de José Jorge Letria

O escritor José Jorge Letria manifestou-nos o seu muito apreço e sincero agradecimento pelo honroso convite que lhe dirigimos para visitar o Agrupamento e informou-nos que, devido a compromissos assumidos, no âmbito das suas funções, na Sociedade Portuguesa de Autores, não será possível realizar a visita neste ano lectivo, propondo a hipótese de a transferir para o início do próximo ano, assegurando que tudo fará para que isso seja possível.
Generosamente, enviou-nos um texto inédito onde homenageia todos quantos sabem ser, a escola, um espaço privilegiado de aprendizagem da leitura e da paixão pelo livro.

Consciente de que o poema não substitui a sua presença, o autor homenageia, assim, os Professores e Alunos do nosso Agrupamento.

O QUE EU PROMETI À MINHA ESCOLA

Eu ia para a escola, caixa grande de lápis e paus de giz,
na vizinhança da casa da minha avó,
na pacatez quase aldeã do Largo das Terras,
seguindo o chilreio dos pássaros,
o carreiro do afã das formigas
e o rasto esvoaçante das joaninhas,
e gostava do cheiro dos cadernos
e da elegância altiva das letras e dos números.
A minha mãe esperava-me à saída,
temendo que eu me perdesse no caminho
e que comesse figos que faziam rebentar os lábios
e tiravam o apetite para o lanche.
Nesse tempo, eu aprendia as pequenas coisas,
ínfimas coisas de que o mundo é feito,
como se coleccionasse selos ou cromos.
O meu pai ainda estava vivo e a minha avó
tratava com pachos de azeite quente
as dores agudas da minha colite precoce.
Era coisa dos nervos, havia quem dissesse.
Eu caçava borboletas e apanhava folhas de amoreira
para fazer crescer os serpenteantes bichos da seda.
Nesse tempo, no tempo azul da escola
que era vizinha da casa da minha avó,
eu não tinha medo da noite nem da morte
e a felicidade era uma fresca rosa branca
no canteiro dos meus sonhos de menino.
Onde estão agora os meninos de bibe branco
que brincavam comigo à apanhada
na hora sempre breve do recreio ?
Alguns partiram já de vez, eu sei,
para o país de sombras onde não há infância.
Outros envelheceram como eu, devagar,
engordaram, desencantaram-se, tornaram-se avós.
Outros ainda, como eu, nunca se curaram
da mágica alegria dessa idade. Que mal tem ?
Um dia fui-me embora daquela escola,
não da minha terra, mas prometi
que havia de voltar mais tarde, num dia qualquer,
nem que fosse sob a forma de livro colorido,
para poder adormecer tranquilo
na prateleira alta das mais ternas lembranças.

José Jorge Letria
Dezembro de 2003

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